CARTA À FEFÊ
Nos últimos dias eu tenho visto tua ausência em tudo, no canto do quarto, que não tem mais tua caminha, ficou um espaço tão grande que eu nem soube preencher. A tigela de comida e a de água não sei o que fazer, os brinquedos… na mesa do café eu espero teus olhos pedintes que não aparecem. Não há mais você me seguindo pela casa sugerindo sairmos até a praça. Os caminhos que percorríamos regularmente têm a presença de tua ausência, o gramado onde fazíamos fotos semanais está vazio. Fui lá todos os últimos dias, nos mesmos horários em que íamos, desta vez pra chorar. Você hoje está apenas em minha memória.
Nos últimos meses, semanalmente fazíamos uma foto para marcar nosso envelhecimento e também porque eu sabia que tua idade avançava logaritmicamente.
Lembro de quando você apareceu em nossas vidas, eu não te dediquei muita atenção. Você morava na rua, estava doente, sem pelos e magra. Dalila quem insistiu em te salvar.
Passado algum tempo você estava melhor da sarna negra e foi morar conosco. Clara, inicialmente, como eu, não aprovou, mas depois aceitamos, embora ela tenha permanecido como a principal da casa até seu último dia.
Algum tempo depois você estava bonita com pelagem negra e farta como a de um urso. Passeava conosco e passou a gostar tanto de mim que eu não resisti, quando saíamos a brincar, eu jogava a bolinha, você corria para pegá-la e depois me devolvia. Ao voltar me olhava apaixonada com seus encantadores olhinhos de jabuticaba.
Você me ensinou sobre o processo de começar a amar alguém e que isto deve ser estimulado e construído, como fez comigo, alimentado cotidianamente, como um jardim, com disponibilidade e correspondência.
Tutor de pet sempre estará na condição de Pietá. Há cinco anos Clarinha nos deixou. Quando ela partiu todxs sofremos, você adoeceu e começou receber os cuidados do Dr Reinaldo. Passamos os últimos cinco anos cuidando de você com alimentação natural e homeopatia, o que prolongou o tempo e a qualidade da vida
Agora foi tua vez de nos deixar. Nosso momento é de luto, vontade de ir junto, mas a vida nunca foi lago, foi rio; nem uma fotografia estática, mas um filme. Isto passará, nossas lembranças serão as melhores!
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