domingo, 7 de abril de 2024

AMARO FREITAS 


Há duas semanas assisti o festejado pianista recifense @amarofreitaspiano no @sesc14bis




Eu o vi pela primeira vez numa edição do Jazz na Fábrica. Já era comentado em alguns grupos e fui assistí-lo, deve ter sido em 2017. Já era um grande musicista, excêntrico, mudérno (como diz Hermeto), mas tinha aquela identidade ainda em processo, uma fusão de muita musicalidade, mas bem jazzístico, era fácil perceber inspirações de Monk e também de John Cage.


Em 2020, raspando na chegada da pandemia ele tocou no Sesc Instrumental, deve ter sido uma das últimas apresentações antes do período de fechamento dos teatros. Aquela apresentação me ajudou passar as primeiras semanas da pandemia (quando vou numa apresentação boa fico com ela na cabeça por dias e aquele programa possuía o acréscimo de ficar gravado, voltei nele algumas vezes no youtube). Ali já encontrávamos um jazzista com características musicais nordestinas.


Tempos depois eu o vi no Café lá em Casa do @nelsonfariaoficial e já era um artista que encontrou o que procurava, sua identidade artística havia encontrado seus traços principais. Ele, visualmente, sua negritude, me faz lembrar um misto de Thelonius Monk com Charlie Mingus, embora nunca o tenha visto usando blazer, mas roupas coloridas e confortáveis que acentuam sua ancestralidade afrodescendente.


Um homem negro e nordestino que cresceu na periferia do Recife, no bairro Nova Descoberta, o que de algum modo sinaliza-nos o que ele significa à cultura brasileira, uma descoberta. O mais rico disso tudo é que ele não foi estudar música na Juilliard ou na Berklee, e nada contra quem foi. A música estava nele, bastava ser fertilizada. Ele é filho de padeiro e que também teve de vender pão para se manter, contou numa entrevista que não pôde pagar aulas de música e tomava aulas com um barbeiro que havia estudado um pouco mais. Hoje aquele mesmo homem, maduro e florescido, circula por importantes palcos do mundo levando nossa musicalidade nos ambientes reservados ao jazz.


E esse musicista encantador se atreveu a convidar o também pernambucano Zé Manoel para interpretarem um dos maiores discos da música brasileira: Clube da Esquina. O disco original já carrega uma riqueza rítmica, harmônica e melódica sofisticada que pouco se vê na música popular e com eles ganhou outros traços, com muitos rubatos que fizeram das músicas ainda mais intensas e envolventes, mormente com a participação afinada e emotiva da plateia. Foi um deleite, quem pôde assistir não tem do que reclamar, talvez um único motivo nos desagrade, acabou!

Quantos novos Amaros que não significam novas descobertas não temos perdidos neste país? São os gênios sem lâmpada, sem perspectiva, são os que fazem pão, entregadores, pintores de paredes, mecânicos... que têm um grande pianista esperando a oportunidade para nascer!

Viva Amaro Freitas e a Música Brasileira!







MASSACRE SIONISTA EM GAZA


Há duas semanas li o texto de Itamar Vieira Jr na Folha SP sobre o massacre promovido pelo exército sionista de Netanyahu em Gaza. Ele o concluiu com inequívoco acerto: "Qualquer manifestação sobre um evento complexo como a questão israelense-palestina aponta para o risco de cometermos injustiças. Mas silenciar pode soar como conivência (...)".



Fez com que eu me recordasse de Jean-Paul Sartre e a admoestadora apresentação do primeiro número da revista Les Temps Modernes, inaugurada logo ao final da segunda guerra: (...) "O escritor está numa situação de sua época; cada palavra tem repercussão. Cada silêncio também (...)."


Embora eu não seja escritor ou possua qualquer importância pública, lembrei-me que não deixei qualquer manifestação minimamente perene sobre o tema. Salvo stories, participação em manifestações de rua, assinado notas e atuado em Coletivos que registraram opinião sobre o tema, em termos de registro, nada existe.


Depois da foto de palestinos sendo alvejados na fila para receber alimentos, o adjetivo inaceitável perdeu significado. Não eram terroristas do Hamas ou militares que ali estavam, pode ser que algum estivesse, majoritariamente eram meros civis, incluindo crianças, mulheres e idosos.


Como bem registrou Zeina Latif, n'O Globo em 21 jan, pags 20-1 (...) o general Ghassan Alian, fez um pronunciamento em árabe dirigido à população de Gaza: “Animais têm de ser tratados como tais. Não haverá eletricidade nem água, haverá apenas destruição.” O ministro da Defesa, Yoav Gallant, afirmou que “não haverá eletricidade, comida, combustível — tudo está sendo bloqueado. Estamos lutando contra os animais humanos e vamos agir em conformidade.


A humanidade que reside em nós não pode permitir a adoção de classificar palestinos como eles, outros ou terroristas, quando também são Nós, são constitutivos de nossa generidade. É um pouco de cada um de nós que deixa de ser gente quando as imagens não nos afetam, passamos a ser menos humanos pela indiferença.


Chaplin n’O Grande Ditador termina com seu brilhantismo peculiar num discurso em defesa dos judeus como pertencentes e representantes de toda a humanidade, se fosse hoje seria contra Netanyahu e seus sionistas (não inclui o povo judeu) em defesa das pessoas massacradas em Gaza.


Isto não é aceitável faz bastante tempo!